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Relatório SME Performance Review 2025: Principais Conclusões para Startups e Scaleups

A Comissão Europeia publicou recentemente o relatório anual SME Performance Review 2025, documento de referência que monitoriza a evolução e o desempenho das pequenas e médias empresas (PME) na União Europeia. A edição deste ano, elaborada pelo Joint Research Centre (JRC) em colaboração com a DG GROW, assume especial relevância para o ecossistema de startups e scaleups, ao destacar os principais desafios e oportunidades que se colocam às empresas em fase de crescimento acelerado.

1. Startups e microempresas: motor de dinamismo económico

O relatório confirma a importância crescente das microempresas — categoria onde se inserem a maioria das startups — enquanto principais impulsionadoras do crescimento do emprego e do valor acrescentado na UE. Em 2024, as microempresas foram o único segmento de PME com crescimento positivo simultâneo nestes dois indicadores (+1,6% em emprego; +1,9% em valor acrescentado real). Para 2025, este desempenho deverá reforçar-se, com previsões de +2,2% em valor acrescentado e +1,5% em emprego, superando largamente os grupos de maior dimensão.

Este crescimento sustentado reflete a capacidade de inovação, adaptação e resiliência das startups, especialmente em sectores com forte componente digital ou base tecnológica.

2. Scaleups: empresas em crescimento acelerado sob escrutínio europeu

Pela primeira vez, o relatório dedica um capítulo autónomo à análise das scaleups (high-growth firms), sublinhando a sua relevância estratégica para a competitividade da Europa. Entre os principais destaques:

  • Os scalers estão presentes em todos os sectores da economia, não se limitando às TIC ou à alta tecnologia;
  • Empresas jovens têm maior probabilidade de escalar, mas a maioria dos scalers ativos são empresas com maturidade superior a 5 anos, demonstrando que a escalabilidade não depende apenas da juventude empresarial;
  • Embora a maioria se concentre em áreas metropolitanas, uma proporção significativa de scalers opera fora dos grandes centros urbanos, o que evidencia o potencial de crescimento em territórios de menor densidade;
  • Estas empresas contribuem de forma desproporcional para o crescimento do emprego, da produtividade e da inovação, sendo consideradas essenciais para atingir os objetivos estratégicos da UE.

Contudo, o relatório alerta que a UE possui um número reduzido de scaleups em comparação com os EUA ou a China, o que justifica a recente aposta política em medidas específicas de apoio a estas empresas.

3. Barreiras estruturais e estratégias de superação

Apesar do seu potencial, as startups e scaleups enfrentam obstáculos persistentes, amplamente identificados no relatório:

  • Dificuldade no acesso a financiamento adequado à fase de crescimento, com destaque para o financiamento em equity e instrumentos híbridos;
  • Barreiras administrativas e regulamentares, nomeadamente na operação transfronteiriça e na integração no Mercado Único;
  • Falta de visibilidade estatística e enquadramento político das small midcaps (empresas entre PME médias e grandes), muitas vezes excluídas de programas específicos por não se enquadrarem nas definições clássicas.

A nova Estratégia para o Mercado Único, apresentada em simultâneo com o relatório, propõe a mitigação destas barreiras através da simplificação administrativa, melhoria da interoperabilidade regulatória e criação de melhores condições para o crescimento sustentável e internacionalização.

4. Ecossistemas com elevado potencial de escalabilidade

O relatório identifica os sectores com maiores taxas de crescimento para PME em 2024 e 2025, com especial relevância para startups e scaleups:

  • Digital: com previsões de crescimento acumulado de +27% em valor acrescentado e +23% em emprego entre 2020 e 2025. As microempresas são o principal motor deste crescimento;
  • Indústrias culturais e criativas e turismo: com taxas de crescimento superiores a 2% em 2025, representam áreas com elevado potencial para modelos de negócio inovadores;
  • Energias renováveis: apesar da volatilidade recente, é apontado como ecossistema estratégico para a transição climática, com espaço para soluções emergentes.

Estes sectores reúnem as condições propícias para o crescimento exponencial de startups, em especial aquelas orientadas para a digitalização, descarbonização e inovação social.

5. Aposta estratégica na inovação e conhecimento

A análise sectorial evidencia um crescimento conciso nas indústrias intensivas em conhecimento e tecnologia (KTI), com um aumento previsto de 26% no valor acrescentado e 18% no emprego até 2025. Apesar de ainda representarem uma pequena fatia do tecido empresarial europeu, estas indústrias concentram o maior potencial de inovação transformadora.

Startups de base tecnológica (deep tech, IA, biotech, etc.) têm, neste contexto, oportunidades acrescidas para contribuir para o reposicionamento da Europa enquanto potência industrial e tecnológica.

Conclusão T2B

O SME Performance Review 2025 não é meramente um levantamento estatístico; é, na nossa análise, um mandato claro e um mapa de oportunidades para o ecossistema de startups e scaleups na Europa. O relatório confirma inequivocamente que estas empresas ocupam uma posição central nas estratégias europeias de crescimento, inovação e competitividade, sendo reconhecidas como agentes de transformação económica.

A evolução positiva dos indicadores associados às microempresas, onde a maioria das startups inicia o seu percurso, não só valida o dinamismo destes modelos de negócio como também sublinha a urgência de fortalecer as condições para a sua escalabilidade. O reconhecimento institucional da importância das scaleups é um passo crucial que, em nossa opinião, reflete uma maturidade crescente nas políticas europeias. Esta mudança de foco sinaliza uma aposta decisiva na capacidade destas empresas de gerar emprego, produtividade e inovação a uma escala significativa, indispensáveis para os objetivos estratégicos da UE.

Contudo, a constatação da lacuna de scaleups face a outras geografias e a persistência de barreiras estruturais – nomeadamente no acesso a financiamento e na simplificação regulatória – impõe um desafio que a nova Estratégia para o Mercado Único se propõe mitigar. Acreditamos que a superação destes obstáculos será o diferencial crítico para que o potencial de crescimento identificado nos setores Digital, Energias Renováveis, Indústrias Culturais e Criativas, e KTI (intensivas em conhecimento e tecnologia) se materialize plenamente. Estes ecossistemas reúnem, de facto, as condições para um crescimento exponencial e devem ser o foco de investimento e desenvolvimento.

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